A chanceler alemã, Angela Merkel, adotou várias medidas para frear o esperado fluxo de imigrantes na primavera do hemisfério norte e enfrentar com segurança as próximas eleições.
Entre as medidas está a decisão de limitar o reagrupamento familiar e de endurecer o direito de asilo para marroquinos, argelinos e tunisianos, que poderão ser expulsos mais facilmente, colocando fim a dois meses de difíceis negociações políticas entre os sócios da coalizão governamental.
Nela, estão os conservadores CDU, de Merkel, seu braço bávaro CSU - que exige em vão a fixação de um limite para o acolhimento de refugiados - e os sociais-democratas.
O objetivo das medidas é preparar o terreno para uma redução do fluxo migratório, após mais de um milhão de imigrantes terem chegado à Alemanha em 2015. A baixa foi prometida pela chanceler, mas ela excluiu o fechamento das fronteiras.
Merkel também aposta na bateria de medidas europeias, como a divisão de refugiados por toda a União Europeia - o que vários países rejeitam - e a milionária ajuda prometida a Turquia, Jordânia e Líbano para que retenham os sírios em seus territórios.
Alemanha vs. Itália
Berlim espera que a Itália não se oponha mais ao pagamento de 3 bilhões de euros prometidos pela União Europeia (UE) no final de 2015 à Turquia.
Em visita à Berlim nesta sexta-feira, o chefe de governo italiano, Matteo Renzi, garantiu que "a Itália está disposta a cumprir sua parte". Ao mesmo tempo, Renzi lembrou ter dito, em princípio, "sim à ajuda para a Turquia" em novembro - e que ainda aguarda "as respostas dos amigos da Comissão Europeia".
Roma bloqueia o assunto, porque defende que sejam destinados mais fundos europeus para financiar os 3 bilhões de euros. Atualmente, um terço dessa quantia deve proceder do orçamento da UE, enquanto o restante deve ser fornecido pelos Estados europeus. A Itália também espera um controle do uso desses recursos por parte de Ancara.
"A implantação do acordo UE-Turquia é urgente, já que precisamos de avanços [para conter a chegada de imigrantes]", reiterou Merkel.
Para a Alemanha, trata-se de aproveitar a trégua oferecida pelas tempestades de inverno no Mediterrâneo, que geraram uma considerável queda no número de imigrantes que tentam a travessia para a Itália e para a Grécia.
"É preciso utilizar esta oportunidade que se abre", afirmou na quinta-feira Peter Altmeier, coordenador da Política Migratória alemã, muito próximo a Merkel. "Mas ainda são muitos os 2.500 refugiados ilegais que vêm [a cada dia] da Turquia à Grécia. É por isso que nosso objetivo é que o número de refugiados não aumente com o fim das tempestades de inverno."
Queda de popularidade
Merkel se recusa, no entanto, apesar da forte queda de seu nível de popularidade, a limitar o número de refugiados acolhidos. Segundo uma pesquisa nesta sexta-feira da revista Focus, 40% dos alemães consideram que a chanceler deve deixar seu cargo, contra 45% que são contrários.
É uma tendência ameaçadora antes de três eleições legislativas regionais em 13 de março. Nesse pleito, espera-se um espetacular aumento dos populistas anti-imigrantes do partido AfD (Alternativa para a Alemanha).
Nesse contexto, Merkel prometeu um "equilíbrio intermediário" de seus esforços após a cúpula UE-Turquía de 18 de fevereiro. "Tudo deve dar a entender que se mantém a continuidade, mas, na realidade, o governo prepara uma correção de sua política migratória", escreveu nesta sexta-feira o jornal Handelsblatt.
Este endurecimento progressivo ocorre enquanto a Alemanha aparece na Europa como o único destino para centenas de milhares de migrantes.
Políticas anti-imigração
Suécia e Finlândia anunciaram sua decisão de querer expulsar dezenas de milhares de imigrantes que chegaram a seus territórios em 2015. A Holanda espera reenviá-los à Grécia, enquanto Macedônia, Croácia e Sérvia não querem deixar as pessoas que têm como destino Áustria e Alemanha passarem.
O primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov, pediu nesta sexta-feira o fechamento das fronteiras externas do espaço Schengen, enquanto a UE não decidir o que fazer com os imigrantes que já estão em seu interior.
"Insisto [que a Europa dê] ao menos um passo: fechar imediatamente as fronteiras externas da UE, enquanto estes 1 a 2 milhões de pessoas não estiverem instaladas", disse Borisov. "Não se pode deixar que gastem seu dinheiro e, depois, sejam expulsos [...] mais vale impedir que venham", acrescentou, após uma reunião com seu colega húngaro, Victor Orban.
Cerca de 30.000 refugiados sírios, iraquianos e afegãos seguiram tomando a rota dos Bálcãs em janeiro, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM). "O impiedoso caráter dos grupos [de traficantes de seres humanos] que vemos é alarmante", disse o porta-voz da OIM, Joel Millman.
Intensificados pelo mau tempo, dramas continuam sendo registrados no Mediterrâneo. As autoridades gregas recuperaram na manhã de quinta-feira os corpos sem vida de outros 24 imigrantes, entre eles dez crianças. Já a Marinha italiana encontrou outros seis cadáveres diante da costa líbia.
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