quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Citada como exemplo, Alemanha espera trânsito em julgado para prender



Quem defende que a prisão possa ser executada já depois da decisão de segundo grau, mesmo ainda havendo recursos pendentes de julgamento, costuma citar os sistemas dos Estados Unidos e da França como mais eficientes. Lá, dizem, as prisões são executadas depois da primeira confirmação. O sistema da Alemanha, no entanto, pode ser mais "comparável" ao nacional. Citado como bom exemplo, o modelo alemão também espera o trânsito em julgado da condenação para prender.
A explicação é do advogado Luís Henrique Machado, criminalista e sócio do escritório Machado Ramos e Von Glehn Advogados. Ele é mestre e doutorando em Processo Penal pela Universidade de Humboldt, em Berlim, e conhece bem o sistema de execução do país.
O advogado explica que, embora o sistema alemão obrigue o trânsito em julgado para executar a pena, um processo é considerado terminado depois da decisão do Bundesgerichtshof (BGH), equivalente ao Superior Tribunal de Justiça brasileiro. Portanto, a Alemanha segue o mesmo padrão brasileiro: depois da decisão do juiz de primeiro grau, um recurso é analisado por um tribunal local e, por último, vai o recurso de revisão, chamado de Revision, ao BGH.
“É um recurso que possui natureza processual e tem efeito suspensivo, muito semelhante ao nosso recurso especial”, comenta Machado. Ele ressalva que os recursos cabíveis ao STJ não têm efeito suspensivo automático, como acontece no sistema alemão. “Na Alemanha, é incabível a execução das sentenças das instâncias ordinárias.”
A diferença está na participação da corte constitucional alemã. Lá, conta Machado, não existe recurso ao Tribunal Federal Constitucional. O que existe é a Reclamação Constitucional (Verfassungsbeschwerde) e, especialmente em matéria penal, a Revisão Criminal (Wiederaufnahme des Verfahrens).
Ambas só podem ser ajuizadas depois do trânsito em julgado das decisões, e não têm efeito suspensivo. As partes podem pedir que elas interrompam o trânsito em julgado, mas é raro que o Judiciário concorde, conta o criminalista.
Em pauta
A citação a sistemas internacionais tem sido frequente nos últimos meses por causa da guinada jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal. Em fevereiro, a corte negou um pedido de Habeas Corpus e passou a entender que a prisão já pode ser executada depois da decisão de segunda instância.
Está na pauta desta quarta do Plenário o julgamento de duas ações que pretendem anular esse entendimento e voltar à jurisprudência anterior do STF, de que só depois do trânsito em julgado é que se pode executar a pena.
No caso de fevereiro, por sete votos a quatro, o Plenário seguiu o voto do ministro Teori Zavascki, para quem depois da decisão do segundo grau encerram as possibilidades de discussão de materialidade, provas e fatos. Ao STJ e ao Supremo cabem apenas discussões de direitos e garantias. Portanto, não haveria prejuízo ao princípio da presunção de inocência. Apesar de o inciso LVII do artigo da Constituição Federal dizer que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
O julgamento das ações pautadas para esta quarta já começou, mas só o relator, ministro Marco Aurélio, votou. E ele fez um pronunciamento duro, dizendo que seus colegas, ao autorizar a prisão antecipada, em hipótese que a Constituição não prevê, editou uma emenda constitucional ilegítima. “O abandono do sentido unívoco do texto constitucional gera perplexidades", disse Marco Aurélio.
Caminho do meio
A obediência a uma ordem semelhante à do sistema alemão é um dos pedidos nas ações. Uma delas, de autoria do Partido Ecológico Nacional (PEN), sugere, caso o Supremo não declare a constitucionalidade do artigo 283 do Código de Processo Penal, que proíbe a prisão antes do trânsito em julgado, que se dê efeito suspenso suspensivo ao recurso especial, ajuizado no STJ.
Com isso, o partido pede um "meio termo" entre o que diz a Constituição e o que querem alguns ministros do Supremo. A ideia é que se mantenha o recurso extraordinário em matéria penal sem suspender o trânsito em julgado do processo. Mas que o recurso ao STJ tenha o poder de interromper o trânsito para que a pena não seja executada.
Lá fora
Com quase 700 mil presos, o Brasil é a quarta maior população carcerária do mundo, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça. Mas o quadro que preocupa especialistas é a quantidade de presos sem julgamento definitivo, que ultrapassa os 40% do total.
Em fevereiro, o ministro Luiz Fux, um dos que concorda com a antecipação da prisão, afirma que a cifra apenas representa a quantidade de presos que ainda não tiveram suas sentenças confirmadas pelo Supremo, como exige a Constituição.
Na mesma ocasião, o ministro Luís Roberto Barroso lembrou que “nenhuma democracia no mundo” espera a decisão de quatro instâncias para executar uma sentença condenatória. E fez citações aos sistemas norte-americano e francês. O mesmo fizeram os ministros Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Luiz Edson Fachin.
Os argumentos foram "rebatidos" pelo decano da corte, o ministro Celso de Mello. Para ele, a Constituição brasileira “estabelece, de modo inequívoco, que a presunção de inocência somente perderá a sua eficácia e a sua força normativa após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.
“É por isso que se mostra inadequado invocar-se a prática e a experiência registradas nos Estados Unidos da América e na França, entre outros Estados democráticos, cujas Constituições, ao contrário da nossa, não impõem a necessária observância do trânsito em julgado da condenação criminal”, concluiu Celso.
Cidadãos presos
Os Estados Unidos têm a maior população carcerária do mundo, com 2,2 milhões de presos, dos quais 20% estão aprisionados sem julgamento. As informações são do World Prison Brief, banco de dados do Instituto de Pesquisas sobre Politica Criminal (ICPR), da Universidade de Londres, sobre a poplação carcerária mundial.
A França tem 69,3 mil presos, de acordo com o ICPR, conforme dados de julho deste ano. Deles, 28,9% são provisórios.
O que os dois países têm em comum com o Brasil é o crescimento da população carcerária durante o início dos anos 2000. Na França, a quantidade de presos subiu de 54 mil em 2000 para 72 mil em 2014. Nos EUA, os presos eram 1,9 milhão em 2000 e passaram a ser 2,2 milhões em 2012.
As semelhanças param aí. De 2014 para cá, França e EUA viram a quantidade de pessoas encarceradas cair. O Brasil seguiu em sua curva ascendente e viu a quantidade de presos subir quase triplicar entre 2000 e dezembro de 2014, quando era de 622 mil a população carcerária, conforme dados do Ministério da Justiça. Considerando a pesquisa do CNJ, em dois anos, foram presas 78 mil pessoas.
Já a Alemanha tem 64,4 mil presos, segundo dados de abril deste ano. E desses, 21% são presos provisórios. Com a diferença de que, de 2004 para cá, houve uma diminuição na população carcerária de 23%.
Mas, para além dos dados e semelhanças no sistema, Luís Henrique Machado não acredita em argumentos comparativos para resolver a questão. “No Brasil, a Constituição não dá nenhuma margem para interpretação”, diz.

Postado por Carlos PAIM

quinta-feira, 12 de maio de 2016

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Postado por: Ygor I. Mendes


domingo, 14 de fevereiro de 2016

George Clooney encontra Angela Merkel em Berlim

Criticada por todos os lados por sua política de abertura aos refugiados, a chanceler alemã, Angela Merkel, pôde aproveitar uma breve pausa nesta sexta-feira, em Berlim, ao receber o astro de Hollywood George Clooney e sua esposa, Amal.

O encontro foi realizado na chancelaria, longe de repórteres. Apenas algumas imagens oficiais de George Clooney, vestindo terno escuro e gravata, conversando com Merkel foram liberadas pelo serviço de imprensa do governo.

E Merkel preferiu a sobriedade para comentar o encontro.

"Discutimos o compromisso das ONGs de George Clooney", o International Rescue Committee (IRC), "de sua esposa (Amal) e de David Miliband", o ex-chanceler britânico e presidente do IRC, informou à imprensa.

"Nós conversamos sobre as possibilidades para uma ONG e um governo trabalhar em conjunto sobre as causas que levam as pessoas a fugir (de seu país de origem), e também a forma de incentivar as pessoas a participar nesta causa", acrescentou.

Em entrevista à televisão alemã ZDF, o ator americano de 54 anos, que chegou à capital alemã para apresentar Ave, César!, o mais recente filme dos irmãos Coen no Festival de Cinema de Berlim, disse que discutiu sobre "a melhor maneira de ajudar" os refugiados.

"Estou bem ciente da dificuldade da tarefa", acrescentou, prestando uma homenagem "a todos os voluntários" e "todos os alemães" que se mobilizaram para acolher os migrantes.

Conhecido por seu compromisso político e humanitário, especialmente em Darfur, uma região remota do Sudão, o astro havia anunciado um dia antes sobre o encontro com Angela Merkel, o que atraiu um grande interesse da mídia.

Dezenas de fotógrafos e equipes de televisão tentaram localizá-lo durante o dia na chancelaria ou em centros de refugiados, onde corriam rumores sobre uma visita iminente.

Os serviços da chanceler insistiram que o encontro com o ator americano foi "solicitado por Clooney" e "permitiu um intercâmbio sobre a questão dos refugiados, mas também sobre os conflitos internacionais".

No entanto, o jornal alemão Berliner Zeitung questionou a adequação da reunião, dizendo que poderia "sair pela culatra" contra Merkel.

"A chanceler se reúne com um ator num momento em que, por causa da perda de confiança na sua política de migração, poderia ser acusada de preferir as luzes de Hollywood em vez de resolver os problemas urgentes do país", escreveu o jornal.

Porque a discussão com George Clooney e sua esposa, uma advogada envolvida ativamente em causas humanitárias, foi apenas uma breve pausa para a chanceler.

Em breve deverá retornar às críticas diárias que tem recebido nos últimos meses sobre a crise migratório.

O próximo encontro será com um de seus parceiros europeus descontentes com a política de Berlim, sua colega polonesa Beata Szydto, que pediu nesta sexta-feira em uma entrevista com a imprensa alemã por "uma reviravolta" de Angela Merkel sobre a questão dos migrantes.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, também atacou nesta sexta em uma entrevista aos jornais alemães que a política adotada pela chanceler não era "sustentável no longo prazo".

A Alemanha acolheu em 2015 mais de um milhão de requerentes de asilo, o que gerou crescentes críticas à Merkel.



sábado, 30 de janeiro de 2016

Alemanha toma medidas para evitar novo fluxo de imigrantes

A chanceler alemã, Angela Merkel, adotou várias medidas para frear o esperado fluxo de imigrantes na primavera do hemisfério norte e enfrentar com segurança as próximas eleições.
Entre as medidas está a decisão de limitar o reagrupamento familiar e de endurecer o direito de asilo para marroquinos, argelinos e tunisianos, que poderão ser expulsos mais facilmente, colocando fim a dois meses de difíceis negociações políticas entre os sócios da coalizão governamental.
Nela, estão os conservadores CDU, de Merkel, seu braço bávaro CSU - que exige em vão a fixação de um limite para o acolhimento de refugiados - e os sociais-democratas.
O objetivo das medidas é preparar o terreno para uma redução do fluxo migratório, após mais de um milhão de imigrantes terem chegado à Alemanha em 2015. A baixa foi prometida pela chanceler, mas ela excluiu o fechamento das fronteiras.
Merkel também aposta na bateria de medidas europeias, como a divisão de refugiados por toda a União Europeia - o que vários países rejeitam - e a milionária ajuda prometida a Turquia, Jordânia e Líbano para que retenham os sírios em seus territórios.
Alemanha vs. Itália
Berlim espera que a Itália não se oponha mais ao pagamento de 3 bilhões de euros prometidos pela União Europeia (UE) no final de 2015 à Turquia.
Em visita à Berlim nesta sexta-feira, o chefe de governo italiano, Matteo Renzi, garantiu que "a Itália está disposta a cumprir sua parte". Ao mesmo tempo, Renzi lembrou ter dito, em princípio, "sim à ajuda para a Turquia" em novembro - e que ainda aguarda "as respostas dos amigos da Comissão Europeia".
Roma bloqueia o assunto, porque defende que sejam destinados mais fundos europeus para financiar os 3 bilhões de euros. Atualmente, um terço dessa quantia deve proceder do orçamento da UE, enquanto o restante deve ser fornecido pelos Estados europeus. A Itália também espera um controle do uso desses recursos por parte de Ancara.
"A implantação do acordo UE-Turquia é urgente, já que precisamos de avanços [para conter a chegada de imigrantes]", reiterou Merkel.
Para a Alemanha, trata-se de aproveitar a trégua oferecida pelas tempestades de inverno no Mediterrâneo, que geraram uma considerável queda no número de imigrantes que tentam a travessia para a Itália e para a Grécia.
"É preciso utilizar esta oportunidade que se abre", afirmou na quinta-feira Peter Altmeier, coordenador da Política Migratória alemã, muito próximo a Merkel. "Mas ainda são muitos os 2.500 refugiados ilegais que vêm [a cada dia] da Turquia à Grécia. É por isso que nosso objetivo é que o número de refugiados não aumente com o fim das tempestades de inverno."
Queda de popularidade
Merkel se recusa, no entanto, apesar da forte queda de seu nível de popularidade, a limitar o número de refugiados acolhidos. Segundo uma pesquisa nesta sexta-feira da revista Focus, 40% dos alemães consideram que a chanceler deve deixar seu cargo, contra 45% que são contrários.
É uma tendência ameaçadora antes de três eleições legislativas regionais em 13 de março. Nesse pleito, espera-se um espetacular aumento dos populistas anti-imigrantes do partido AfD (Alternativa para a Alemanha).
Nesse contexto, Merkel prometeu um "equilíbrio intermediário" de seus esforços após a cúpula UE-Turquía de 18 de fevereiro. "Tudo deve dar a entender que se mantém a continuidade, mas, na realidade, o governo prepara uma correção de sua política migratória", escreveu nesta sexta-feira o jornal Handelsblatt.
Este endurecimento progressivo ocorre enquanto a Alemanha aparece na Europa como o único destino para centenas de milhares de migrantes.
Políticas anti-imigração
Suécia e Finlândia anunciaram sua decisão de querer expulsar dezenas de milhares de imigrantes que chegaram a seus territórios em 2015. A Holanda espera reenviá-los à Grécia, enquanto Macedônia, Croácia e Sérvia não querem deixar as pessoas que têm como destino Áustria e Alemanha passarem.
O primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov, pediu nesta sexta-feira o fechamento das fronteiras externas do espaço Schengen, enquanto a UE não decidir o que fazer com os imigrantes que já estão em seu interior.
"Insisto [que a Europa dê] ao menos um passo: fechar imediatamente as fronteiras externas da UE, enquanto estes 1 a 2 milhões de pessoas não estiverem instaladas", disse Borisov. "Não se pode deixar que gastem seu dinheiro e, depois, sejam expulsos [...] mais vale impedir que venham", acrescentou, após uma reunião com seu colega húngaro, Victor Orban.
Cerca de 30.000 refugiados sírios, iraquianos e afegãos seguiram tomando a rota dos Bálcãs em janeiro, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM). "O impiedoso caráter dos grupos [de traficantes de seres humanos] que vemos é alarmante", disse o porta-voz da OIM, Joel Millman.
Intensificados pelo mau tempo, dramas continuam sendo registrados no Mediterrâneo. As autoridades gregas recuperaram na manhã de quinta-feira os corpos sem vida de outros 24 imigrantes, entre eles dez crianças. Já a Marinha italiana encontrou outros seis cadáveres diante da costa líbia.